12. OUTROS RETRATOS EM BRANCO E PRETO | MIRO

DE 01 DE AGOSTO A 30 DE OUTUBRO DE 2020

Artistas

Grandes fotógrafos sempre amaram o preto e branco.
A melhor explicação para essa paixão, ensina que quando alguém vê uma foto colorida, o cérebro automaticamente lança uma série de comandos para que os olhos possam entender todas as cores que existem na imagem. Azul, amarelo, vermelho, diferentes tons e texturas. Isso faz com que inconscientemente o observador perca a concentração. Ele pode até achar que está vendo a imagem como um todo, porque está enxergando tudo que existe nela, mas por conta da variedade das cores, o foco não está naquilo que está sendo retratado de fato.

Já no preto e branco é diferente. A ausência das cores significa ausência de informação: com a ausência de informação o foco se amplia e o observador consegue, dessa forma, enxergar tudo, de fato.

Miro sempre soube dessa superioridade do preto e branco, na teoria e na prática. No racional e no intuitivo.

Extremamente culto e informado, mesmo convivendo durante anos com uma surdez precoce, Miro sempre ouviu absolutamente tudo. E sempre falou pouco e baixo. Apenas o necessário.

Suas fotos não valem por mil palavras porque são feitas para dizer única e exclusivamente o que deve ser dito. Sem verborragias visuais.

Essas 12 grandes fotos, que para esta exposição se transformaram também em 12 fotos grandes, foram feitas por Miro nos anos 1970 e 980, quando seu trabalho era

considerado moderno.

O tempo provou que na verdade já era eterno.

11. GIRLS ON POP | EXPOSIÇÃO COLETIVA

CURADORIA: ERIKA PALOMINO | DE 29 DE JANEIRO A 29 DE FEVEREIRO DE 2020

Os signos e o repertório da Pop Art original encontram-se plenamente incorporados aos dias de hoje. Por conta da difusão/profusão das imagens agora pelos meios digitais, a sociedade de consumo, com seus excessos e manias, alcançou lugares que talvez nem mesmo Warhol poderia imaginar. Se a efemeridade do Pop, o culto ao cotidiano e ao banal se relacionam com o Instagram e com os filtros da vida, o olhar para o feminino e para a figura da mulher se move à força dos novos ventos.Talvez o movimento Pop seja mais lembrado como norte-americano, predominantemente masculino e às vezes sexista. Esta mostra não é sobre isso. Aqui trazemos trabalhos sob a influência dele, muitos contendo apontamentos, diálogos abertos ou papos retos.

Linguagens variadas aparecem, como a da publicidade, a da mídia e a da moda; a pintura, o bricolage; a escultura, o objeto e o mobiliário, bem como ideias de repetição e ironia se relacionam entre si.

Fotografia, colagem e impressão  – cara ou barata. Apropriações. Da caixa de joias da Tiffany’s de Fernando Zarif passando pela loja de 1 e 99 de Rochelle Costi, até o sagrado de Moisés Patrício (feito de brasileiras xuxinhas de cabelo), a coisa se desdobra em muitas.

O “now and then” emerge de forma solta e inesperada: o revólver de Regina Silveira fala tanto com a série “Guns” quanto com o feminicídio e suas estrondosas estatísticas.

Glamourizada, muitas vezes objetificada e mesmo mercantilizada no “pop-raiz”, a figura feminina chega aqui atualizada, revisitada, desconstruída em forma and gênero, da Jane Fonda de 1982 (mais atual do que nunca, em seu ativismo pelas causas ambientais) às pin-ups dos anúncios de prostituição de Lyz Parayzo e às travas cíclopes do coletivo avaf.

Com a cor  e a forma – sempre elas – encontramos (novos) significados e contrastes. Sob influência, seguimos empurrando fronteiras.

Curadoria Erika Palomino

10. ALL THE LONELY PEOPLE | ADRIANA OLIVER

DE 03 de Agosto a 30 de Agosto de 2019

Artistas

Adriana Oliver (Barcelona, Espanha, 1990) é uma artista que desenvolve seu trabalho no campo da pintura como suporte principal, com uma abordagem que parte da Pop arte e que ressoa no pós minimalista, conceitualmente pautado por questões em torno de convívio social contemporâneo e feminismo. De maneira muito particular relaciona o indivíduo com a cultura de massa e a mídia, trabalhando com a repetição e obstrução/abstração dos rostos de seus personagens. Nessa sua primeira exposição no Brasil, ela apresenta trabalhos recentes que dão seqüência a sua pesquisa pictórica, apôs exposições na Espanha, Canadá e Estados Unidos.

Suas pinturas demonstram como a vida se estende alem de seus próprios limites subjetivos e muitas vezes conta uma historias sobre os efeitos da interação cultural global na segunda metade do século XX. Essa conexão global que nos torna mais “conectados” é a mesma que faz deste o momento de maior individualismo e solidão. A artista desafia os binários que continuamente reconstruímos entre o Eu e o Outro, entre os nossos “eus” “canibais” e “civilizados”. Aos demonstrar a persistência onipresente de um “mundo corporativo e global”, ela cria um trabalho que aparenta fascínio pela clareza de conteúdo, mas que resulta em uma imagem que é ao mesmo tempo distante e onírica.

Seus homens e mulheres sem face ressoam aos publicitários da década de 1950, descritos no livro Mad Man de James B. South e Rod Carveth (que posteriormente foi transformado em série de grande sucesso na Tv americana). Como no livro, Adriana ao destacar esses personagens, misteriosos e bem vestidos, se vale da figuração Pop para discutir relações de poder, misoginia e machismo. Num contexto maior, fazem referencia a teoria pós-colonial e ao movimento democrático de vanguarda como forma de resistência a lógica do capitalismo selvagem que deu vida a Pop Arte nos anos 1950 mas que hoje é retomada pela artista como símbolo de resistência.

09. THE GOLDEN SOUP | ANDY WARHOL

DE 16 DE MAIO A 22 DE JUNHO DE 2019

A exposição busca estabelecer um paralelo entre trabalhos icônicos de Andy Warhol com a produção de vanguarda de artistas e designers. Investiga como hedonismo, consumo, capitalismo e fama, temas que percorrem o trabalho do artista, ecoam de forma tão diversa sendo responsável por uma revolução na linguagem visual a partir da segunda metade do século XX.

08. A REVOLUÇÃO BIPOLAR | PAZZA PENNELLO

Curadoria: Paulo Azeco | DE 22 DE JANEIRO A 30 DE MARÇO DE 2019

Artistas

 

O título da exposição, “A Revolução Bipolar”, deriva do livro do autor brasileiro Luis Fernandes, que aborda a Revolução Russa em seu aniversário de 100 anos. Trata do surgimento e queda da União Soviética e mais que isso, disserta seu caráter dualista: conquista e opressão, força e atraso, ascensão e colapso.

Nascida na Ucrânia (parte da antiga URSS) na década de 1980, Pazza Pennello passou por esse momento de transição entre a queda do socialismo soviético e a abertura para o mundo ocidental. Alicerçando a estética pop a essa conjuntura a artista apresenta duas séries e um vídeo pela primeira vez no Brasil.

Na série Chic-Morden Pazza retrata a inundação dos produtos ocidentais que adentraram o país, fazendo uma analogia entre o passado soviético e o mundo ocidental. Assim ela elabora um retrato sociológico, criando um microcosmo que ilustra um dualismo mais íntimo, aquele vivido por ela. Na pintura “Anniversary”, a artista documenta uma cena cotidiana de transição social e geopolítica, mas que ao mesmo tempo é um testemunho íntimo e biográfico.

Em “Super Beam”, outra série apresentada na exposição, um feixe de luz ilumina corpos femininos nus em ambientes que remetem aos anos 1980. No ano de 1986, em um caso simbólico dessa transição da URSS, uma mulher que participava de um programa de televisão, disse ao vivo que “não havia erotismo na URSS”. Na verdade o que ela queria dizer era que o tema não era abordado na televisão do país que julgava o conteúdo como algo imoral e indecente. Em contraponto a esse cenário a obra “Super Beat”, de 2016, onde duas mulheres nuas dançam e festejam sob o feixe de luz, representando a liberdade sexual após a queda da cortina de ferro, exibindo uma nova realidade que foi encoberta por uma política de Estado que censurava a estética, o sexo e a moral.

Já no vídeo “My Corner”, a artista filma a fachada de uma loja chamada “Cinderela”, que aparece enquadrada em uma rua vazia. A narrativa é feita por uma jovem de 16 anos que expõe para o espectador como tem sido sua vida de prostituição. A fantasia do nome, oriundo dos contos de fadas, imediatamente se contrapõe com a realidade de sua fala, o depoimento nos leva a refletir sobre a situação mulher nos dias de hoje.

A obra de Pazza Pennello são retratos de uma geração transitória que acompanhou a derrocada da maior potência socialista do mundo. Dessa maneira sua obra se torna universal e dialoga com a sociedade e políticas atuais, onde opressão e nacionalismo voltam a dar sinais em todo o mundo.

Paulo Azeco

07. CROSS THE LINE DON’T CROSS THE LINE | EXPOSIÇÃO COLETIVA

CURADORIA: PAULO AZECO | DE 23 OUTUBRO DE 2018 A 26 DE JANEIRO DE 2019

Desde o surgimento da imprensa escrita os artistas estiveram presentes como ilustradores e projetistas. Isso tomou uma proporção maior com o francês Toulouse Lautrec, que desenvolveu cartazes para cabarés a partir de 1890. Ao aliar estética, pesquisa, forma e comunicação em uma peça gráfica, Lautrec foi considerado por muitos o primeiro designer gráfico da história.

Essa simbiose encontra na Bauhaus terreno fértil onde artistas e designers produzem em conjunto uma nova estética aplicada a cartazes e panfletos. No Brasil, um exemplo forte dessa relação talvez seja Alexandre Wollner, que inicia sua carreira como artista e posteriormente se torna o mais renomado designer gráfico do país.

Os designers viam na arte inspiração para peças gráficas destinadas aos mercados publicitário, editorial e político, como pode ser visto no segundo andar. Na Pop Art essa relação se inverte, os artistas passam a olhar esse universo e ressignificá-lo, utilizando esse material gráfico como ferramenta de expressão artística.

H73 apresenta três trabalhos inéditos feitos a partir de colagens de fitas adesivas. Nas estradas observa-se a variação do ponto de fuga e o estudo de diferentes perspectivas e apropriação dos elementos gráficos comuns das placas de sinalização. No caso das serigrafias de Allan D’arcangelo, a maneira de lidar com a perspectiva se dá a partir de relevos formados pelo uso das cores. Abidiel Vicente transforma a apropriação da criação gráfica em algo novo e contemporâneo.

06. A LOVE LETTER | ROBERT INDIANA | O CLICHÊ COMO RUPTURA | MEL RAMOS

CURADORIA: PAULO AZECO | DE 21 DE JULHO A 06 DE OUTUBRO DE 2018

A Love Letter

Talvez não exista um artista tão ligado ao amor quanto Robert Indiana. Em 1965 o artista criou para o MoMA de NY, um cartão de Natal com a palavra “LOVE” que logo se tornou o a imagem mais emblemática de toda sua produção. A partir deste cartão foi posteriormente, em 1970, produzido uma escultura ( primeiro em Nova York e depois em várias cidade no mundo ) e também em uma série de silkscreens com variações cromáticas e que fazem parte dessa exposição.

Indiana no inicio da sua carreira, se alinhou ao pensamento artístico radicalista dos seus amigos Ellsworth Kelly e Agnes Martin, mas não demorou para que sua obra se alinhasse, mesmo que de forma marginal, a cena Pop que dominava a cidade nos anos 60 e 70. E essa exposição busca tratar disso, de como um artista que só usava de símbolos e letras, se tornou tão relevante para Pop Art e mais que isso, tratava a partir desses elementos o Amor como força motriz do seu trabalho.

Uma de suas séries mais importantes, e também presente nessa mostra, é aquela na qual ele homenageia o artista americano Mardsen Hartley, morto em 1943. Hartley foi talvez o primeiro artista americano a pintar basicamente por meio de símbolos e que acabou influenciando a produção de Indiana. Na trilogia apresentada aqui na exposição, “The Hartley Series ( Berlin Series )” de 1990, ele se baseia na obra do pintor para contar a relação de amor que Hartley nutriu pelo tenente prussiano Karl von Freybourg, durante o período em que viveu em Berlin. Karl acabou morrendo durante a guerra em 1913, e isso afetou toda a vida e obra posterior de Hartley.

Essa homenagem reafirma como o amor, semiótico ou efetivo, compõe o cerne da pesquisa de Robert Indiana ( nascido em setembro de 1928 e morto recentemente, em maio de 2018 ). A exposição busca retratar esse Amor, nas mais diferentes formas abordadas por Indiana e enaltecer o trabalho de um dos artistas americanos mais importantes do século XX.

O Clichê como Ruptura

Mel Ramos é um dos maiores nomes da Pop Art americana. Nascido em 1935 na Califórnia, sua obra sempre foi relacionada a sexualidade e erotismo, mas pautada pela representação dos corpos reais. Buscava a beleza na diferença, na mulher real, assunto que hoje é uma das grandes questões. De certa forma sua obra dava poder a aquela mulher idealizada pelas revistas e ao mesmo tempo diminuída pela sociedade machista. Mas ainda assim, na década de 1970, foi alvo do ódio e incompreensão do movimento feminista.

Ramos continua ainda hoje produzindo imagens de mulheres nuas, pneumáticas, emergindo tal qual o “Nascimento de Vênus”, surgindo de embalagens de balas e chocolate, carregando charutos enormes e brincando com o imaginário de seus espectadores. O que é diferente é que durante uma história de 50 anos de imagens cada vez mais sexualmente provocativas na arte, mídia e cultura popular em geral, fez com que as pinturas de Ramos pareçam comparativamente inocentes nos dias de hoje.

Seu trabalho sempre esteve na beira da provocação entre o gosto aceitável e o inaceitável. No início dos anos 60, ele produziu imagens de heroínas de histórias em quadrinhos como Wonder Woman e Phanton-Lady ( presentes nessa exposição ). Ao contrário das mulheres nas pinturas de Roy Lichtenstein, as musas do Mel Ramos não eram apenas cópias ampliadas, levemente modificadas, de imagens em quadrinhos. Sua inovação foi modelar sua imagem em mulheres reais – estrelas de cinema como Jane Russell e Marilyn Monroe ou modelos anônimas. Portanto, apesar de seu estilo cômico irrealista, as mulheres de Ramos tinham uma presença erótica que as mulheres de revistas em quadrinhos da época nunca tiveram. Eram a combinação inteligente de sofisticação intelectual, consumismo criterioso e o hedonismo da época.

Por outro lado, seja por convicções estéticas, pudor ou política, o mundo da arte moderna da Europa e da América só hoje começa a repensar a questão do nu contemporâneo feminino na arte e reavaliam o trabalho de mestres como Mel Ramos. A exposição aqui propõe fazer um recorte da produção desse artista, que como nenhum outro soube escandalizar, ridicularizar a indústria do consumo americana e dar poder a figura da mulher, muito antes de isso ser pauta fácil na discussão sociológica.

05. ENTRE FORMAS E SUBJETIVIDADE | CLAUDIO TOZZI

CURADORIA: SOFIA GOTTI | DE 10 DE ABRIL A 09 DE JUNHO DE 2018

Artistas

Claudio Tozzi é um dos artistas mais ressonantes e importantes do Brasil desde os anos 1960. Sua prática atravessou múltiplas fases e, a cada passo, seu trabalho polimórfico cresceu de acordo com uma investigação formalista linear e incessante. Começando por experimentar silkscreens Pop, ampliações fotográficas e pintura figurativa, ele passou para filme, instalação, pinturas acrílicas esculturais, esculturas de parede em metal, técnicas e materiais de uma enorme variação. Para esta exposição, que reúne trabalhos realizados ao longo de quatro décadas de sua carreira, convidamos os espectadores a serem tocados pela dimensão subjetiva de cada obra, a fim de acolher conexões novas e inesperadas em toda a sua obra.

Obras no térreo falam de como Tozzi mascarou a crítica política e social com uma linguagem visual muitas vezes lúdica e acessível. A seleção apresenta imagens recorrentes de mulheres e casais em diferentes estágios de sua prática, refletindo sobre a mudança dos papéis de gênero e a luta das mulheres pela igualdade. A partir do final dos anos 1960, ele abordou esses temas como emblemas de uma batalha pela total liberdade física e intelectual, ameaçada por uma sociedade tradicionalista que ditava normas e por um sistema político imposto pelos militares durante a ditadura. Os trabalhos expostos documentam as diversas estratégias que Tozzi implantou para atingir seu objetivo, que incluiu exibir sua arte no espaço público, usando trocadilhos para zombar do status quo (Zebra e Bananeira), ou apresentando imagens e situações tensas (O Grito, Fotograma).

1968 marcou uma crise na prática de Tozzi, período no qual a fiscalização sobre a intenção subversiva de seu trabalho tornou-se uma prioridade. O ciclo de Parafusos captura esse ponto de virada em sua estética. O símbolo horrível de um parafuso perfurando um cérebro transmite uma sensação de dor que gera um grito silencioso, pedindo-nos que resista a quaisquer limitações impostas à vida intelectual – uma intenção semelhante à de O Grito (1971), exposta no andar de baixo. Como a linguagem visual de Tozzi tornou-se cada vez mais abstrata e metafórica, a história do Brasil continuou seu torturante caminho para o fim da ditadura em 1985. A série intitulada Pasagens foi iniciada no ano anterior, quando ocorreram as maiores manifestações públicas contra o governo militar de João Figueiredo. As estruturas imaginárias e as escadarias retratadas nestas obras constroem uma metáfora sobre a concepção modernista de arquitetura: a que reflete sobre como ambientes podem influenciar aqueles que os habitam. Como tal, as escadas confusas e isoladas nos levam a questionar qual caminho seguir. Em 1984, elas nos levam a imaginar que elas nos levariam na esteira de um retorno rumo à democracia.

04. AUTOBAHN | ABIDIEL VICENTE

DE 01 DE FEVEREIRO A 31 DE MARÇO DE 2018

Artistas

“Autobahn” é o nome da nova série do artista Abidiel Vicente. Ele aprofunda sua pesquisa em ressignificação de elementos de sinalização e iconografia urbana, estabelecendo um interessante diálogo com o universo da música. O ponto forte desse novo trabalho é a utilização, pela primeira vez na trajetória do artista, da pintura sobre tela.

Na exposição, é possível encontrar algumas das características dos seus mais de 10 anos de produção artística. Estão ali o universo imagético de Berlim, a utilização irônica dos produtos de consumo de massa e uma leitura, bastante eficaz, da sociedade atual – incluindo aí as redes sociais e suas novas maneiras de mediar o contato com o mundo. Mas o que reúne todo esse crash de referências é a estética pop, e seus grandes mestres, como Andy Warhol, Allan D’Arcangello e Jasper Johns. Abidiel, que é um grande pesquisador das vanguardas da década de 1960, transporta seus elementos para uma produção contemporânea, dialogando de maneira contundente com o seu tempo.

Ao abordar vários momentos de sua trajetória, o corpo de sua obra se torna mais potente e fica explícito como o artista transpõe suas observações do mundo para trabalhos que o colocam a frente do pop, que, num primeiro momento define visualmente suas imagens. Seus trabalho se situa dentro da contemporaneidade, dos artistas que conseguem entender seu momento e lugar no mundo,transformando isso em arte de forte reflexão.

03. ANTES E DEPOIS DA IMAGEM | EXPOSIÇÃO COLETIVA

CURADORIA: LUISA DUARTE | DE 30 NOVEMBRO DE 2017 A 27 DE JANEIRO DE 2018

Antes e depois da imagem: um olhar sobre a abstração e a geometria no acervo Houssein Jarouche: este título procura instaurar uma inflexão em meio a um projeto que abriu as portas, ainda esse ano, tendo como DNA a Pop Art – tanto por meio de edições de grandes mestres norte-americanos quanto de obras assinadas por ícones da Nova Figuração Brasileira. Sabemos que a primeira equação pop – arte é igual a mercadoria – tem o seu paroxismo na obra de Andy Warhol. O artista não apenas produzia em série, como chamava seu ateliê de “fábrica”. Testemunhamos o mesmo tratamento formal à imagem do luto de uma primeira-dama no enterro do marido assassinado (Jackie O.) e a uma lata de sopa ou de sabão em pó (Campbell e Brillo). Essa é a sua sofisticação maior. Antever o embaralhamento completo da aura. A pop art articula, no campo artístico, uma sociedade de consumo nascente no pós-guerra e, com ela, uma acidez crítica, de caráter ambíguo, já que tanto promovia quanto ironizava a junção de uma imagem banal e o mundo da mercadoria. Estamos, assim, diante de um procedimento poético/político no território da arte, que sublinha o embaralhamento entre realidade e cópia, simulacro e real.

Antes e depois da imagem busca uma tonalidade afetiva diversa à da pop art. A mostra é fruto de uma pesquisa que detectou, no acervo da galeria, um conjunto de obras que se vincula ao legado ora minimal, ora abstrato, ora geométrico, ora atravessado por um acento pop, mas sem abrir mão de uma natureza construtiva. Essa observação curatorial, que se dedicou ao acervo da galeria, selecionou trabalhos de artistas de diferentes gerações e latitudes: Ann Hamilton (1956) , Ed Ruscha (1937), Frank Stella (1936), Geraldo de Barros (1923 – 1998), Iran do Espírito Santo (1963), Ivan Serpa (1923–1973), Judith Lauand (1922), Luiz Zerbini (1959) , Max Bill (1908–1994), Rodrigo Torres (1981).

Seria uma tarefa destinada à incompletude buscar, no espaço deste breve texto, situar historicamente cada um dos nomes acima, contextualizando- os em uma linha do tempo do século XX, a fim de estabelecer elos com o passado e o presente. Mas podemos enunciar algumas aproximações breves. O primeiro andar alinhava Ed Ruscha, artista histórico que converge pop e minimal (é preciso perceber que as suas cartografias geométricas hospedam palavras à espera de sentido). Em seguida testemunhamos um diálogo com serigrafias do suíço Max Bill (1908-1944): sabemos que o concretismo, um tipo particularmente rígido de abstração geométrica que se desenvolveu na Europa na primeira metade do século XX, teve em Bill uma de suas figuras centrais. Já Frank Stella surge com trabalhos sutis, diretamente ligados à série de suas consagradas “Black Paintings”. Quem dialoga com Stella é Ann Hamilton. Uma cuidadosa trama une, por sua vez, Lauand, Serpa, De Castro, Geraldo de Barros, Max Bill e Iran do Espírito Santo, no segundo andar. Em cada momento, um artista contemporâneo brasileiro se faz presente em meio a nomes de gerações e latitudes diversas – Zerbini e Iran. Um ato simples, mas que sinaliza a amplitude do diálogo proposto.

Incorporadas todas essas etapas, importantes para a compreensão de um certo fio mínimo da história da arte, o que nos interessa se encontra no gesto capaz de instaurar alguma diferença diante do ruído generalizado do mundo atual. As obras aqui reunidas solicitam silêncio, pausa – se possível, um olhar paciente, passível de aproximações e distâncias. A sutileza que não se confunde com fragilidade presente na maior parte dos trabalhos de Antes e depois da imagem: um olhar sobre a abstração e a geometria no acervo Houssein Jarouche, a meu ver, tem a chance de inspirar um outro modo de habitar o tempo, em meio a uma época constantemente ansiosa, acelerada, tanto quanto, por vezes, vazia de sentido. “Olhar o passado faz sentido à luz da urgência do presente”, nos lembra Walter Benjamin. Eis a forma potente de nos apropriarmos desse acervo hoje pensado, exibido e, portanto, vivo.